sábado, 28 de maio de 2016

Degustação de Vinhos "Bio" - Confraria "Des Amis du Mouton" - ABS-Rio.

O Prof. Roberto Rodrigues Discorre  sobre o vasto tema.

Por sugestão da Confreira Laura, Mestre RR nos deu uma Aula sobre Vinhos "Bio" e garimpou algumas garrafas junto aos Membro da Confraria. Bruno Blecher, Diretor de Redação do Globo Rural afirma, na Edição de 03/05/16, que "alimentos orgânicos estão virando um grande negócio" e escreve que "esses alimentos não utilizam fertilizantes sintéticos, agrotóxicos e não são transgênicos". É comum a confusão entre agricultura Orgânica, Biodinâmica e Biológica e, na Aula de hoje, se procuraram esclarecer as diferenças entre as modalidades.


Visão da Grande Mesa, com Michel Batista em destaque.

A importância do tema é ainda maior, numa época em que se verifica o aumento da incidência de diversos tipos de Neoplasias Malignas e Malformações Congênitas em fetos, nas populações de regiões agrícolas, mormente no interior do Estado de SP. Os primeiros Viticultores que enveredaram pelo novo caminho da Produção Biológica (Bio) eram chamados de "Viticultores Poetas" e os mais tradicionais torciam o nariz, diante das novas idéias. Com efeito, foram os novos pequenos produtores, quase sempre vindos de outras atividades e com uma visão mais ampla de mundo, vindos para a lavoura sem vícios, os que expandiram a prática da Produção Bio na Europa e, em especial, em Portugal.


Carol Figueira, Laura Cavallieri e Andrea Panzacchi (Convidado).

Com efeito, na "Terrinha", já se contam vários Produtores Bio, dentre eles a Casa Ferreirinha, a Quinta da Casa Amarela (dos Regueiro), a Quinta da Serradinha, a Quinta da Palmeirinha, a Altano Quinta do Ataíde, a Aphros, para citar apenas umas poucas propriedades pioneiras. Portugal começou a engatinhar nessa seara em 1991. E discorre o Professor Roberto Rodrigues: Os vinhos que se compram no comércio todos têm conservantes e podem ser guardados. Já os Bio devem ser consumidos logo e não duram mais do que seis meses. O Processamento desses vinhos tem que ser "Bio", não podem conter leveduras industrializadas (liofilizadas), mas se usam leveduras naturais. Não se pode usar enxofre para interromper a fermentação; essa etapa é feita pelo uso de métodos físicos, para reduzir a temperatura do mosto. 


Confrades Rodrigo Caldas e Godofredo Duarte (Brinde).

Alguns vinhos "Bio" têm Certificação: Entidades geralmente governamentais fiscalizam os vinhedos e Certificam os Produtores que se enquadram na Legislação (que varia para cada país, 4, 5 ou 6 anos sem o uso de Defensivos agrícolas e fertilozantes sintéticos no vinhedo) e os Produtores que fizerem jus à classificação podem colocar um selo no rótulo, que, na UE, tem a cor verde, com as letras AB. Podem optar por colocar uma foto de uma Joaninha ou, simplesmente, escrever " Produto Bio" no rótulo. Já nos idos de 1927,  surgiu em Berlim a Demeter, uma organização de certificação de Agricultura Biodinâmica que, depois da II Grande Guerra voltou a operar na Europa.


 Rodrigo, Godofredo Duarte e a Confreira Mélaine Rouge.

Existem produtores "Bio"que não têm Certificação, nem escrevem no rótulo, mas são "Bio", a gente sabe que são! Para ser AB, o Produtor não pode usar Defensivos Agrícolas no vinhedo. Então, eles usam Patos...Sim, Patos, para comer os bichinhos (pragas) e larvas. Na Vinícola Avondale, da África do Sul, os vinhateiros têm o chamado "Pato Móvel", carro cheio de Patos, que eles soltam no vinhedo. São empregados, também bichinhos para comer bichinhos e "limpar" a plantação. Em regiões frias e úmidas do Brasil, os Produtores (Vinícolas como Mário Geisse e Miolo), bem como do Chile (Miguel Torres) precisam manter o solo mais seco e, para tal, podem borrifá-lo com Sulfato de Cu ou se utilizarem de Ventiladores, que sopram ar a + 180 Graus Celsius rente ao solo, de duas a três vezes a cada colheita. Os fungos perecem!


A Joaninha, Símbolo da Vinicultura Bio (Foto do Mesa de Baco), 
estampada nos Rótulos dos Vinhos Bio da Quinta da Casa Amarela.

As alterações climáticas, os protocolos ambientais, a questão tão debatida e divulgada do mau uso dos recursos naturais do Planeta  vieram dar força aos métodos naturais e o mercado de produtos alimentícios Bio, principalmente na Europa, passou a ser valorizado. Isso é o Biológico; Biodinãmico é outra coisa, frisa Roberto Rodrigues! Quem faz vinho Biodinâmico, faz, desde o início, Biológico, mas não é obrigatório. Às vezes, os Produtores compram uvas de outros Produtores. Portanto, Biodinâmico não é, necessariamente, "BIO". Os vinhos Biodinâmicos têm que seguir Princípios Naturais. Tais Princípios vêm da Idade Média, dos Alquimistas Europeus. Esses Princípios passam pelos Bruxos da Magia Branca e da Magia Negra (quatro cidades européias, das Magias Branca e Negra, como Lion, Turim, Évora...). 


 Eis o "Desfile das Garrafas" dos Vinhos Degustados nessa noite em que Baco rezou:



La Part des Anges 2012 AOC Chablis, de Jean-Pierre Grossot,França, Bourgogne, 
Notas: RR = 87,0 e Grupo = 87,9. Chablis correto porém de preço alto.

Seguindo tais Princípios, de um cultivo sem fertilizantes sintéticos e sem agrotóxicos, foi que nasceu uma corrente mais radical, a Biodinâmica, que teve origem na Doutrina Antroposófica do filósofo austríaco Rudold Steiner. Tal corrente não é oriunda das demandas do mercado,  de apelos à preservação do meio ambiente, mas de um “estado de espírito interno”, uma filosofia, que orienta o indivíduo num determinado modo de agir de Concepção Holística muito além da prática Bio. 


Pinot Noir 2013, de Vinhedo Serena, Brasil, Serra Gaúcha. 
(Vinho extra, levado por Carol). Notas: RR = 86,0 e Grupo = 89,9. 
Evoluiu muito rapidamente e levou a acharmos que era muito mais velho. 
Aromas quimicos o que denota que não é Bio como dito pelo produtor.

A Biodinâmica é também muito anterior (1924) aos Métodos de Produção Biológicos (MPB) e percorre um caminho totalmente diferente. Uma das peças chaves deste tipo de agricultura, o célebre Calendário Lunar de Maria Thun, foi desenvolvido durante a década de 50 do século XX. Steiner desenvolveu a Teoria da Interação Entre as Forças Cósmicas e o crescimento de plantas e Maria Thun explicou-a, através de anos de experiências, que acabaram por relacionar o ciclo vegetativo das plantas com o Calendário Astrológico. Este calendário, com os seus dias “flor”, “fruto”, “folha” e “raiz”, determina todas as ações agrícolas e acabou mesmo, já em final de vida da “Mentora”, por se estender, com a ajuda do filho Mathias, às provas de vinho, materializada no livro de 2010 “When Wine Taste Best”. Curiosamente, o Calendário Biodinâmico para Consumidores de vinho é seguido por vários produtores e vendedores de vinho em todo o Mundo.


Cerasuolo di Vittoria Classico DOCG 2011, de Azienda Agricola Cos, Itália, Sicilia. 
Notas: RR = 88,0 e Grupo = 88,8, com WS=90. A DOCG é uma das melhores da Sicilia
 e o vinho é um tipico Cerasuolo.


Quem, como eu, se criou no meio rural, testemunhou "práticas biodinâmicas espontâneas" entre os proprietários de fazendas e lavouras...Com efeito, os fazendeiros respeitam as fases da lua para o plantio e para a colheita; para tosquiar os ovinos e para castrar os terneiros,  potros e éguas. E isso parece realmente influenciar na evolução de tais procedimentos, resultando em plantas mais viçosas, espigas com bons grãos, frutos com bom amadurecimento e animais castrados em processo de cura satisfatório. Mas esses milenares costumes podem ser atribuídos a comportamentos anímicos de civilizações primitivas, ao pensamento do tipo dereísta desses povos que viam, nos fenômenos naturais (fases da lua, direção dos ventos, fenômenos das mares, eclipses do sol e da lua, etc.), avisos dos Deuses e prenúncios do fim do mundo). Leve-se em consideração, outrossim, que esses povos não contavam com o Calendário Gregoriano, como os de hoje e necessitavam recorrer aos fenômenos naturais para se orientar. Havemos de convir que as civilizações primitivas e rurais eram muito mais ligadas à Natureza do que as civilizações urbanas de hoje, movidas a petróleo, no corre corre das megalópoles, vivendo ofuscadas pelo brilho dos anúncios de Neon.


Aliara Valle Central 2010, de Odfjell, Chile, Valle Central, Notas: RR = 89,0
 e Grupo = 90,2,  com WS=87. Bom vinho do Chile.

Vinho de boa expressão aromática a baunilha, eucalipto, pinho,  caramelo, frutas vermelhas, tomate seco, algo defumado, um frescor de menta... Na boca, é seco, sápido, quente na alcoolicidade, macio, encorpado e tânico. Dei-lhe a Nota 93, mas posso ter sido generoso demais.

Roberto Rodrigues também menciona Produtores que se orientam pelos Princípios Energéticos da Homeopatia, tendo tido a oportunidade de degustar um, trazido do Oregon, pelo Confrade Humberto Cárcamo, vinho que impressionou positivamente os degustadores da ocasião. Trata-se de um vinho cujo Produtor é um Médico Homeopata. 


Cellarius Malbec Cachi 2013, de Bodega Isasmendi, Argentina, Salta,
Notas: RR = 86,0 e Grupo = 88,3.Bom vinho, pena que tem excesso de álcool.

Roberto relata, de modo bem humorado, uma estória vivida quando da visitação a um Produtor do Minho (Aphros, de Vasco Croft, na Quinta do Casal do Paço): Conversando à beira da piscina, um dos visitantes elogiou o viço de um vinhedo próximo. O Enólogo escutou e contou que aquele vinhedo estava "caidinho", parecendo não prosperar... Então, "conversou" com o vinhedo e ele lhe disse do que precisava... Em seguida, tomou um rifle e entrou pelos bosques da região, abateu um veado e dele fez uma ablação da genitália, retornando ao vinhedo. Ali enterrou os genitais do animal, passou a trabalhar a plantação e observou que o vinhedo prosperou de modo impressionante, tornando-se esse vinhedo que se vê hoje.


Andrea agracia o Grupo com o seus delecioso Vero Gelato Italiano.

Já os seguidores dos ensinamentos de Freud teriam outra explicação para o fenômeno do florescer do referido vinhedo: O Enólogo estaria lidando internamente com elementos depressivos e sentimentos de impotência, possivelmente com conflitos de cunho existencial. Estaria reflexivo, tentando elaborar tais conflitos, até que teve um ímpeto que o fez agir e, de posse dos genitais do animal, em termos simbólicos, teria readquirido o Falo Potente, que fertilizou a terra. Assim, o Enólogo se sentiu encorajado novamente para realizar as ações necessárias para o fortalecimento da plantação. Ou seja, passou a empregar os recursos que sempre possuíra dentro dele.


Esse foi carinhosamente servido especialmente para o Escriba.

Por fim, nosso Mestre questiona a segurança em relação aos vinhos certificados: Na Europa, os vinhos Bio são mais valorizados... Mas acontece que, na Borgonha, por exemplo, onde os vinhedos se distribuem em pequenas e inúmeras propriedades, em média, de 1 a 2,5 hectares, há vinhedos situados em terrenos mais acima, que não são de cultivo Bio e, mais abaixo, em distâncias muito pequenas, existem vinhedos certificados (Bio), que, certamente, recebem contaminação de agrotóxicos e fertilizantes sintéticos desses vinhedos vizinhos. Da mesma maneira, vinhedos de Vinhas Velhas, em que as raízes se aprofundam até o lençol freático, havendo vinhedos nas redondezas que empregam agrotóxicos, as raízes recebem seiva contaminada. Portanto, não há garantia de se ter um vinhedo totalmente livre de contaminação por defensivos agrícolas sintéticos.


Uma deliciosa mistura de sabores. Prefiro o de Manga.



Foto histórica, com alguns Confrades e Confreiras que estiveram na 
Confraria" Des Amis du Mouton. 

Ao finalizar esta matéria sobre Vinhos Bio, me dei conta de que se trata da  primeira que escrevo, relativa às Degustações da nossa Confraria "Des Amis du Mouton", depois que a Confreira Márcia Parente precisou deixar o Grupo de Degustação. Certamente, esse fato se deve à elaboração de um luto que vem operando dentro de mim, desde então e cuja resolução foi iniciada pelo tema da Aula relatada. Oportunamente, já que Bio quer dizer vida e creio que esse simbolismo deu a partida para eu me encorajar a escrever o "Post".



Os créditos pela descrição dos vinhos pertencem ao Profo. Roberto Rodrigues, a quem o Mesa de Baco é devedor. O Grupo agradece aos Confrades que trouxeram os seus vinhos para a Degustação, bem como ao nosso gentil Convidado Andrea, pelo vinho e pelos Sorvetes Artesanais ("Sorvetes Bio"), de elaboração própria.